quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Em busca de menores necessidades

E essa mania de refletir sobre a vida - e sobre as coisas(...) Procuro periodicamente refletir sobre estar andando pelo caminho certo. O que significa pensar sobre que rumo minha vida está tomando e o que realmente importa.

Há um tempo eu achava que o que realmente importava para eu ser uma pessoa de sucesso era “passar em concursos públicos”. Não me entenda mal, sou muito grata pelo emprego que tenho e adoro desenvolver minhas atividades junto ao serviço público. Houve algum momento durante minha formação que foi incutido à minha mente que eu precisava correr atrás daquilo que eu queria. E eu corri. Aos 21 anos eu já tinha um emprego considerado bom (o mesmo que ainda tenho hoje). Aos 21, continuava a procurar uma vaga em concurso público, porque afinal não se pode deixar acomodar, é necessário evoluir, buscar mais. Eu nasci ouvindo (e vendo o exemplo dos meus pais) que a gente tem que correr, correr sempre. Por outro lado, não foi um movimento natural da sociedade me fazer refletir sobre o que eu realmente preciso. E eu me vi por anos renovando meu planejamento anual colocando no papel que o objetivo era “passar em um concurso melhor”; tentando pelo menos semestralmente me adequar a um novo ciclo de estudos. Até que nos últimos dois anos comecei a pensar se era esse mesmo o objetivo que queria perseguir, uma vez que se eu realmente quisesse, penso que teria maior comprometimento com os "planejamentos" realizados.

Percebi que não. Eu queria me tornar uma pessoa mais interessante – viajar mais, aprender línguas, adquirir cultura, ajudar ao próximo, levar e transmitir paz.  Eu não tenho dúvidas, hoje meu objetivo é ser feliz. Talvez não haja clareza sobre o que é ser feliz, acredito que a humanidade esteja confusa ainda sobre isso. Talvez passar em outro concurso público ainda faça parte dessa felicidade, mas não é mais um fim em si só.

Sucesso. Felicidade. Prosperidade. Talvez, prosperidade seja menos sobre “ter muitas coisas” e mais sobre “ter necessidades menores” ou “precisar de menos coisas”.  E, ironicamente, tive essa “sacada” após um final de semana em um curso chamado “Millionaire Mind Intensive” no qual me encorajaram a pensar em um “salário” que fosse suficiente para todas as minhas “necessidades”. No auge da minha humildade, enquanto pessoas falavam em centenas de milhares de reais, eu pensava bem menor. Nesse mesmo curso, o incentivo era para que não houvesse limite para se pensar, porque o pensamento era a barreira limitante que teríamos que transpor. Dizia-se que se você acha que suas necessidades mensais são de 10 mil reais, por exemplo, você condiciona seu cérebro a esse limite de possibilidade de ganho. Nesse dia tive ganhos de vida com histórias, relatos e convivências, mas tive também mais um exemplo de como funciona a sociedade atual. Esse é um princípio de nossa sociedade inconformada, para a qual o valor está na falta, não no que se tem.

Pensando em minhas coisas e minhas necessidades, percebi que há 3 anos eu vivia em um quarto. Era apertado, mas suficiente. Hoje vivo em um apartamento de 2 quartos. Continua sendo apertado, mas suficiente. Isso tem muito mais a ver com o apego às coisas e meu ”modus operandi” do que o tamanho do cômodo em que vivo.

Então, passei novamente a pensar sobre o minimalismo. Um estilo de vida com apenas aquilo que agrega valor ou traz felicidade para sua existência. Sem excessos. Apenas o necessário. No mínimo tem-se que admitir que é uma perspectiva interessante. Na escolha entre o que se mantém e o que se descarta não é necessário justificar a ninguém o motivo pelo qual um objeto possui valor, apenas você precisa saber o porquê de guardar aquilo. Até porque, se o objetivo é livrar-se de “peso extra”, acho uma boa se livrar do peso que ficamos sujeitos pelos julgamentos e pensamentos dos outros.

E então hoje tirei parte do dia para ler sobre isso. E li. E assisti. E achei interessante. E comentei com pessoas. Vi pessoas que viviam de "airbnb "em "airbnb" e não tinham casa. Outras que passaram 3 meses com 33 itens de vestuário (Projeto 333) - incluindo calça, saia, blusa, brinco, sapato, lingerie. Pessoas que perceberam que estavam no caminho errado quando foram convidadas a serem sócias da empresa pela qual tanto batalharam como funcionários - e aí notaram que se aceitassem virariam escravas daquilo tudo, pois nunca mais seriam capazes de deixar aqueles milhares para trás e viver a vida "aventureira", pois jamais abririam mão de tanto dinheiro. Ainda, adorei a perspectiva de que se abrisse mão de várias peças de vestuário todas que restassem seriam as minhas favoritas.  

Eu não estou certa de que vou virar minimalista e passar a ter três pares de sapato - afinal eu sou a pessoa que guarda as apostilas do cursinho pré-vestibular e todos os xerox da faculdade até hoje - mas creio ser uma boa ideia refletir sobre esses princípios e aplicar o que puder e quiser. Gostaria de lembrar aqui que o mundo não é “binário”: você é ou você não é. Rótulos e regras de comportamento me incomodam demais, por exemplo, nunca mais poder comprar 3 tons de esmalte rosa na mesma tarde porque agora sou minimalista. Se aqui o ponto é refletir sobre o que eu preciso, tenho certeza que um “rótulo de minimalista” não é o que eu preciso, não é útil e nem traz felicidade.  

Só sei que eu não quero comprar mais coisas. Que não preciso trocar de carro esse ano. Que não preciso das apostilas do cursinho pré-vestibular. Que não preciso de tantas sacolas vazias de loja. Que não preciso guardar uma jarra de plástico verde só porque ganhei. Que não preciso dos xerox da faculdade. Que não preciso buscar novas necessidades para poder preencher uma vida vazia. Que posso me desfazer de várias coisas. Que seria mais feliz valorizando mais os momentos do que as coisas. Quero ter mais relações verdadeiras, mais significado, mais paz, mais tempo para o que realmente importa e menos tempo me preocupando em arrumar as tralhas que acumulei por uma vida.